Mirian Montanari Grüdtner
Eu passava uns dias de férias na casa de meus pais, um raro momento em que todos os cinco irmãos estão reunidos, numa pequena cidade no Mato Grosso do Sul. Numa manhã, acordei bem cedo e fui chamando um por um para darmos uma caminhada. Sempre que viajo, costumo levar na bagagem tênis e uma roupa apropriada para uma caminhada ou uma pequena corrida. Acontece que no dia anterior havia chovido e meu tênis ficou todo encharcado. Minha mãe estava muito animada para a caminhada e não querendo que nada impedisse o programam matinal, veio com uma chuteira do meu pai, tamanho 41. (Fique bem claro que o número que calço é 38...) “Mas, mãe, não tem condição! É muito grande! Vai machucar meu pé...” “Filha, tenta colocar algodão que vai ficar bom.” Bem, quando mãe fala a gente tem que obedecer. Na verdade, o algodão tinha acabado e me restou rechear a ponta da chuteira com quase metade de um rolo de papel higiênico, que não tinha exatamente essa finalidade.
Pés bem calçados, saí faceira com a turma para a caminhada, que, sem dúvida, foi a mais divertida que já fiz na vida...
Para a grande maioria das pessoas, exercitar-se significa caminhar, pois é fácil, não prejudica as articulações e queima calorias. Porém, seja caminhar ou praticar alguma outra modalidade de atividade física, o importante são os benefícios para a saúde. Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, acompanharam, durante 25 anos, 17 mil estudantes recém-saídos da faculdade e concluíram que “cada hora dedicada ao exercício físico rende duas horas a mais de vida.” E notaram também que “o sedentarismo está ligado a 37% das mortes por câncer, a 54% dos óbitos por doenças cardiovasculares e a 50% dos derrames fatais.”1
Movimentar o corpo não é exclusivamente uma questão de beleza ou estética, mas de qualidade de vida. “Atividades aeróbicas, como caminhada, ciclismo, e natação ajudam a preservar o ritmo respiratório, garantem o bom funcionamento dos músculos, contribuem para a queima de gordura e estimulam as células produtoras de ossos a trabalharem com mais vigor, prevenindo o enfraquecimento ósseo. A musculação promove a saúde do esqueleto aumentando a produção de massa óssea. O alongamento ajuda a manter as articulações em bom estado.”2 Assim, para aumentar e manter o fôlego, a força, a flexibilidade e a coordenação motora, é indicado que se agreguem atividades aeróbicas, musculação e alongamento.
A musculação e o exercício aeróbico também são recomendados para idosos no combate à osteoporose, dores nas costas e doenças cardíacas. De acordo com o geriatra José Mario machado, “quanto mais a pessoa fica parada, pior o osso fica. Os exercícios em academias estimulam o osso a reter e a buscar cálcio na sua estrutura, o que impede que a estrutura óssea fique porosa, leve e se quebre com facilidade. E a atividade também condiciona a musculatura e diminui a atrofia, que é o principal causador das dores.”3
Já dizia o poeta romano Juvenal (60-130d.C.): “Mens sana in corpore sano” – mente sã em corpo são. Está comprovado que o exercício beneficia não somente a saúde física, mas também a mental. E os médicos têm procurado conscientizar a população de que ele é eficaz na prevenção e no tratamento da depressão. O Dr. José Antonio Atta, chefe do Ambulatório de Clínica Geral do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que a atividade física previne o aparecimento de sintomas depressivos em jovens, adultos e idosos, além de melhorar o humor e o bem-estar, reduz o risco de Mal de Alzheimer e da demência senil. Segundo ele, no caso de depressão, os resultados surgem de seis a oito semanas após o início dos exercícios regulares.
O psicólogo Henry Link tinha um procedimento interessante em relação aos pacientes que chegavam muito tensos ao seu consultório. Antes de começar a entrevista com o paciente, ele solicitava que eles caminhassem vigorosamente ao redor do quarteirão, três vezes. Quando os pacientes retornavam, já se encontravam menos ansiosos, com maiores chances de assimilar a terapia e aprender a administrar as preocupações. 4
São inquestionáveis os benefícios do exercício para a saúde física e mental. Para o Dr. S.I. McMillen,5 “corpo indisciplinado gera alma e mente indisciplinadas. Contudo, as pessoas que fazem exercícios regulares acham mais fácil disciplinar-se em outros aspectos da vida, tais como dietas de alimentação saudável, devoções regulares, controle do pensamento e muitos outros.”
E o que o exercício físico tem a ver com a nossa vida espiritual? Lembremo-nos de que nosso corpo é o templo do Espírito Santo. Mas para que Ele habite em nós, para que se comunique conosco e para que tenhamos percepção de Sua voz, é preciso que cuidemos desse templo. Dentre os benefícios gerados pela atividade física, sabe-se também que ela aumenta a produção de neurotransmissores cerebrais, melhorando o humor, diminuindo o estresse, mantendo o indivíduo mais alerta, mais disposto, com maior capacidade de concentração, fatores necessários para a comunhão com Deus. É preciso que estejamos com nosso corpo livre de impurezas, tensão, estresse, pois só assim a voz de Deus terá livre trânsito em nossa mente.
Há mais de cem anos, inspirada por Deus, Ellen White já exortava sobre a importância de exercitar o corpo: “O organismo precisa da revigorante influência do exercício ao ar livre. Umas poucas horas de trabalho físico diariamente tenderiam a renovar o vigor físico e dar repouso e alívio à mente.” 4 T 264 (1876). Dirigindo-se aos jovens, ela disse: “... o exercício rigoroso, severo, fortalece cérebro, ossos e músculos. (...) Sem semelhante exercício a mente não pode estar em condições de trabalho. Ela não pode apresentar a ação rápida e incisiva que dá finalidade às suas faculdades. Torna-se inativa. Semelhante jovem nunca, nunca se tornará o que Deus pretendia que ele fosse.” CT 103 (1900). Àqueles que se dedicam à pregação e ao esforço mental, ela se dirige assim: “... está constantemente forçando o cérebro, enquanto muitas vezes negligencia o exercício físico, e em resultado, as faculdades físicas são enfraquecidas e o esforço mental é restrito.” OE 240 (1893) É interessante que certa vez ela deu o seguinte conselho a uma mãe inválida: “Poderá fazer o exercício de andar, e cumprindo deveres que exijam trabalho leve, no seio da família, e não dependendo tanto dos outros. (...) O exercício, para lhe ser de positiva vantagem, deve ser sistematizado e levado a influir nos órgãos debilitados, para que se possam fortalecer pelo uso.”3T 76 (1872). E ainda, referindo-se ao exercício, Ellen White diz: “Nenhum homem, mulher ou criança que deixe de usar todas as faculdades que Deus lhe deu, pode conservar a saúde. Não poderá guardar conscienciosamente os mandamentos de Deus. Não poderá amar a Deus supremamente e ao próximo como a si mesmo. Ct 145 (1897).
Se você ainda não possui o hábito de praticar alguma atividade física, ore a Deus para que o ajude a fazê-lo com um sagrado propósito: manter seu corpo como o templo de Deus e prepará-lo para melhor ouvir e obedecer à voz de Deus. Calce um bom tênis de caminhada, coloque roupas leves; escolha, de preferência, um horário de sol ameno e um local afastado do barulho de carros e buzinas, onde você possa caminhar com segurança, respirando ar puro e se deleitando com a paisagem. Faça essa experiência e, em poucas semanas, eu tenho certeza de que você será grandemente recompensado!
1. Revista Veja. Não dá para não fazer. Edição especial no. 20, ano 35, novembro de 2002. Editora Abril, pág 14.
2. Idem.
3. Gazeta do Povo, 6 de setembro de 2004. Paraná. Musculação combate a osteoporose, por Paula Girardi. Pág5
4. PEALE, Norman Vincent. O poder do entusiasmo. Cultrix. P.89
5. MCMILLEN, S.I. Nenhuma enfermidade. Vida. 1986. Flórida, p. 138.