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domingo, 18 de setembro de 2011

QUANDO SEGUREI MEU MEDO COM AS MÃOS





Sempre tive grande repugnância por cobras. Ofídios sem patas. Pecilotérmica. Poiquilotérmica. Varanoide. Cornuda. Rateira. Seja qual o nome pela qual ela possa ser chamada, visitando institutos, jardins botânicos e zoológicos, a área desses répteis era a das minhas caretas e muxoxos. Cobras pra mim significavam bichos detestáveis, dispensáveis e assombrosos; monstros horríveis que povoavam meus sonhos, enchendo-me de pavor. Ofiofobia. Sem-número foram as vezes em que acordava com o coração acelerado, de medo e angústia, porque elas surgiam penduradas em árvores, no chão, no ar, de todos os lados me perseguindo e eu desesperada, sem saber pra onde fugir.

Foi então que, num clima de total descontração, eu caminhava com marido, irmã e cunhado, pelas ruas de uma grande cidade turística. Estávamos de férias, apreciando a arquitetura exuberante, o paisagismo, a criatividade humana, as pessoas diferentes, os cartazes. Fotografando aqui e acolá. Eis que um pequeno ajuntamento de pessoas nos chamou a atenção. Um adestrador de cobras se exibia com duas cobras de seus dez centímetros de diâmetro e uns dois de comprimento e ganhava seus trocos daqueles que quisessem tirar foto ao lado delas, ou algo mais ousado, segurar as criaturas asquerosas.

Meu marido foi o primeiro que viu e arriscou: “Você não quer segurar a cobra pra eu tirar foto?” “Nãoooo! Eu não!! Odeio cobras!” Meu coração acelerou. Comecei a tremer só de pensar na hipótese.

“Vai lá!”, disse ele. Eu parei na frente do rapaz, naquele estado de tremor – tremendo e temendo... Tive vontade de chorar, de sair correndo. Mas, eis a questão: aquele era um desafio. Eu gosto de desafios. Numa rapidez astronômica passou-se pela minha cabeça que talvez aquela pudesse ser a grande oportunidade de vencer esse fantasma, ou, pelo menos amenizá-lo.

O adestrador então me disse pra passar a mão suavemente sobre ela. Ainda tremendo, expirando e inspirando profundo, aproximei minha mão daquela pele escamada. “Humm, pelo menos não é gosmento como eu sempre imaginei...” Então, antes que me desse conta, lá estava eu com aquele réptil em volta do meu pescoço... Fechei os olhos. Um gelo percorreu minha espinha. Não era possível. Cara a cara com ela. Imagine se eu soubesse naquele momento que as cobras possuem a mandíbula e outras articulações do crânio flexíveis capazes de se adaptarem ao tamanho de sua presa, ainda que seja maior que ela mesma...

Abri os olhos. Era verdade. E, de repente, eu já estava com mais uma no meu pescoço, segurando com minhas mãos os pescoços das duas. Inspira. Expira. Relaxa. Olha o passarinho! Parece que eu começava me permitir a sensação de um ato heroico para comigo mesma... Não somente por me desafiar a pegar o objeto concreto, chamado cobra, mas porque estava me decidindo a encarar outros medos. Afinal, sempre existem outras “cobras”, menores ou maiores, que muitas vezes nos impedem de expandir nossas capacidades: medo do futuro, medo de confrontar o novo e desconhecido, medo das expectativas alheias, medo de acreditar e confiar em Alguém maior que nós, medo de envelhecer, medo de recomeçar, medo de perder nossas medíocres seguranças materiais, medo de ser diferente, medo de se impor e dizer ‘não’, medo de não ser aceito, medo de fracassar, medo de ter sucesso, medo de mudar velhas crenças e costumes que nunca deram certo... E então, que tal expirar, inspirar e, embora tremendo, encarar essas “cobras”?

Um comentário:

  1. Nossa Miriam, que coragem! eu tremi só de ver vc com aquelas cobras no pescoço.Você pode se considerar uma pessoa muito corajosa. beijos

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