Mirian Montanari Grüdtner
Um dia fui ao restaurante. Servi meu prato. Peguei os talheres. Mas só quando fui comer percebi que havia pegado duas facas. Desligada...
Outro dia, de manhã, peguei a chave e desci do meu apartamento, o 601, para o estacionamento pra levar as meninas pra escola. Quando fui abrir o carro, a chave era da porta de casa, muito diferente da chave do carro. Então tive que subir novamente e pegar a chave do carro. Desligada...
Outra vez, estava me arrumando para ir a um casamento. Então procurei meu relógio mais bonito que gosto de usar nessas ocasiões. Abri a caixa dele e... que susto! Não estava lá! “Onde estará meu relógio?” Tentei procurar em todos os lugares onde poderia encontrá-lo e nada. “Pronto, perdi meu relógio.” Lembrei que a última vez em que o havia usado foi num casamento
A minha lista de histórias inclui a da chaleira nova fervendo com um dedo de água durante uma pequena saída de cinco horas de duração. Nem preciso dizer que perdi minha chaleira bonita, presente de casamento. Inclui um sem-número de estojos de lápis, guarda-chuvas perdidos e carteira cheia de dinheiro deixada no carro aberto, no estacionamento (que não era o de casa...). Inclui também algumas “caçadas” ao lixo das praças de alimentação dos shoppings pra encontrar meu aparelho ortodôntico.
Uma vez, um senhor conhecido meu esqueceu um livro na mesa de uma recepção e a recepcionista deixou escapar um: “Coitado, esse aí, aonde vai deixa alguma coisa...” Pensei comigo: “Xii, será que já falaram de mim: “Ih, coitada! Aonde ela vai, lá esquece alguma coisa...”?
Bem, mas só os desligados têm certos privilégios, como o de receber duas gentilezas no mesmo horário, em dias diferentes, pelo mesmo motivo e da mesma pessoa... Dia desses fui levar as meninas pra escola, num carro azul escuro. Um Uno branco apareceu, buzinando, e emparelhou-se ao meu. Um senhor gordinho, de cabelos e bigode pretos avisou que a minha porta estava aberta. Agradeci e fechei a porta. No dia seguinte, eu estava com outro carro. No mesmo local, no mesmo horário, um Uno branco apareceu, buzinando e emparelhou o carro ao lado do meu. Um senhor gordinho, de cabelos e bigode pretos avisou que a minha porta estava aberta. Agradeci e fechei a porta novamente...
Bem, eu não poderia falar só de mim... Ou me sentiria a criatura mais extraterrestre do planeta. Seria eu a única com tantas histórias de falta de atenção?
Outro dia, um amigo nosso foi à Alemanha assistir a um jogo importante do Brasil. Pra aproveitar melhor a viagem, sua esposa, minha amiga, pediu que ele trouxesse cremes para ela. E ele comprou e comprou muitos cremes. E ele foi para o estádio. Mas antes, decidiu estrear um dos novos cremes no rosto. Estava muito calor e ele queria hidratar bem e proteger a pele do rosto. Terminou o jogo, ele voltou ao hotel. Estranho. Seu rosto começou a arder... Depois ficou colorido de um vermelho muito vivo. Não passou muito tempo pra ele descobrir que o creme que havia usado era, na verdade, sabonete... Sem comentários... Quem sou eu pra fazê-los?
Vamos parar essas histórias por aqui. Eu desejo sinceramente que a minha coleção não aumente... Até ouso dizer que me sinto em processo de melhorias. Nunca mais peguei chave errada. Nunca mais me esqueci onde pus o tíquete de estacionamento. Nunca mais deixei panela ligada, ao sair de casa. E o mais importante... Isso meu marido me fez prometer de pé junto: “Por favor, não se esqueça de que você é uma mulher casada.” Eu prometi já faz 21 anos e estou cumprindo ao pé da letra...
Valeu pela indicação!
ResponderExcluirBelo texto, excelente enredo, primorosa aplicação!
Que Deus continue sempre te usando. Grande abraço pra familia.